'Estou contando esta história, mas muitas não conseguiram', diz mulher com câncer espancada por ex-secretário de Calumbi
'Gritei com toda a força que tinha', diz vítima de tentiva de feminicídio no Recife Mais de uma semana depois de ter sido espancada com um bastão de madeira...
'Gritei com toda a força que tinha', diz vítima de tentiva de feminicídio no Recife Mais de uma semana depois de ter sido espancada com um bastão de madeira pelo marido, Luísa Barros segue internada no Hospital Português, na área central do Recife (veja vídeo acima). Em entrevista à TV Globo, a mulher de 57 anos falou sobre a dificuldade de identificar e interromper o ciclo de violência em uma relação abusiva. "Às vezes o relacionamento acaba e a gente permanece no relacionamento quando não existe mais. E aquela pessoa que você conheceu só está na sua imaginação. Ela não está mais com você de verdade. [...] Se a gente conseguisse identificar tudo isso e tem coragem de sair de um relacionamento assim: tenha coragem, se conseguir identificar. E saia. Saia antes. Porque hoje eu estou contando aqui esta história, mas muitas não conseguiram contar", disse a vítima. ✅ Receba as notícias do g1 PE no WhatsApp O caso aconteceu na manhã do dia 9 de dezembro, em um apartamento no bairro de Santo Amaro, no Centro do Recife. Segundo a vítima, as agressões começaram quando a mulher, que faz tratamento para um câncer no fígado, se abaixou para pegar um remédio. Ela ficou com múltiplas fraturas na cabeça e no rosto, incluindo o nariz e três dentes quebrados. Luísa passou 22 anos casada com Numeriano Luiz de Sá, de 64 anos. Sargento reformado da Polícia Militar, Nô Numeriano, como é conhecido, é ex-secretário de Esportes e Lazer de Calumbi, no Sertão de Pernambuco. Preso em flagrante por tentativa de feminicídio, ele teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. "Quando eu me abaixei, que vou voltando, eu senti aquela pancada. Aí eu disse: 'Ave Maria, bati minha cabeça'. Pensei que eu tinha levantado e batido no móvel, só que não tinha como eu bater no móvel, já que o móvel era alto, mas eu achei que tinha batido mesmo assim, né?", contou Luísa. De acordo com Luísa, a sequência de golpes desferidos a pegou de surpresa e a fez gritar por socorro. O pedido foi atendido pelo vizinho, o jornalista Márcio Santos Silva, que entrou no apartamento para ajudar. "Estavam os dois no chão, Luísa toda ensanguentada, ele com o sangue dela no corpo dele. E, quando eu entrei, foi isso: ele dizendo que ela tinha batido a cabeça, mas eu só lembro do olhar dela e das mãos estendidas", contou o vizinho. O jornalista relatou que retirou Luísa do local pelas escadas para agilizar o socorro. De acordo com ele, a vítima também afirmou que o marido estava armado. "Eu disse: 'não, não. Não foi isso, foi ele que está fazendo isso comigo. Me tire daqui'. (...) Ele [Márcio] me agarrou pelo braço e saiu me sustentando, sustentando minhas pernas porque eu não estava conseguindo andar direito", contou a vítima. Luísa Barros teve várias fraturas no rosto após ser espancada em apartamento no Recife Reprodução/TV Globo "Gritei para estar aqui falando hoje" Luísa afirmou, ainda, que, durante as agressões, implorou para que o marido parasse e disse que gritava pela própria vida. "O que é isso, Nô? Para com isso, por favor, pelo amor de Deus, pelos meus filhos, por favor. E ele não falava nada, ele só batia. [...] Eu gritei com toda a força que eu tinha na minha alma, eu gritei para estar aqui hoje falando", disse. Procurado pela TV Globo, a defesa de Nô Numeriano pediu para que o histórico de integridade do cliente seja considerado e solicitou serenidade para que se aguarde a conclusão do inquérito policial, evitando-se julgamentos precipitados. "Crime premeditado" A família da vítima acredita que o crime foi premeditado e diz que o agressor já vinha apresentando um comportamento estranho antes do ocorrido. Irmão da vítima, Luiz Ferreira disse que o cunhado chegou a comentar com familiares sobre uma “possível queda” que Luísa poderia sofrer por causa de medicamentos. "Ele conversou com o marido da minha sobrinha dizendo que achava ela estranha, muito possivelmente por causa do medicamento que ela estava tomando, e que era possível que ela caísse de escada", afirmou. De acordo com a advogada da família, Manuela Magalhães, Luísa não tem previsão de alta. Segundo ela, o objetivo é garantir que os procedimentos legais sejam realizados no hospital, sem a necessidade de a vítima comparecer à Delegacia da Mulher. "A delegada vai estar encaminhando as ouvidas que são necessárias, os depoimentos que são necessários dos familiares. Já foi solicitado para que fosse feito o exame traumatológico pelo IML na vítima no hospital porque ela não tem previsão de alta e existe a possibilidade de ela também ser ouvida no hospital também pela equipe da delegacia", contou. Numeriano Luiz de Sá, conhecido com Nô Numeriano, é secretário de Esportes e Lazer de Calumbi, no Sertão de Pernambuco Reprodução/Instagram Atendimento para mulheres vítimas de violência No Recife, mulheres vítimas de violência podem receber acolhimento, atendimento multidisciplinar e orientações de profissionais especializados nos seguintes locais: Centro de Referência Clarice Lispector: Rua Doutor Silva Ferreira, 122, Santo Amaro (atendimento 24 horas); Serviço Especializado e Regionalizado (SER) Clarice Lispector: Avenida Recife, 700, Areias (atendimento de segunda a domingo, das 7h às 19h); Salas da Mulher em cinco unidades do Compaz — Eduardo Campos (Alto Santa Terezinha), Ariano Suassuna (Cordeiro), Dom Hélder Câmara (Coque) e Paulo Freire (Ibura). Além disso, existe um Plantão WhatsApp, com funcionamento 24 horas, no número (81) 99488-6138. Saiba como denunciar Em Pernambuco, as denúncias de violência contra mulher podem ser feitas através do telefone 180, da Central de Atendimento à Mulher, que funciona 24 horas por dia, inclusive aos finais de semana e feriados; A Polícia Militar pode ser contatada pelo 190, quando o crime estiver acontecendo; Também é possível, no Grande Recife, fazer denúncias pelo Disque-Denúncia da Polícia Civil, no número (81) 3421-9595; O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) também pode ser acionado de segunda a sexta-feira, das 12h às 18h, através de uma ligação gratuita para o número 0800.281.9455; Outra opção é a Ouvidoria da Mulher de Pernambuco, que funciona pelo telefone 0800.281.8187; Os endereços e telefones das Delegacias da Mulher podem ser consultados no site do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias
