Tarifas globais elevam preços e travam economia, diz Lula
Presidente da República criticou, em artigo publicano no jornal britânico "The Guardian", a ideia de "desglobalização"

Em artigo publicado no jornal britânico "The Guardian", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou o aumento das tarifas comerciais globais, que, segundo ele, elevam os preços e travam a economia mundial.
Para Lula, a imposição de barreiras comerciais desorganiza as cadeias globais de valor e empurra o planeta para uma espiral de inflação e estagnação econômica.
"A lei do mais forte também ameaça o sistema multilateral de comércio. Tarifas abrangentes interrompem as cadeias de valor e empurram a economia global para uma espiral de preços altos e estagnação. A Organização Mundial do Comércio foi esvaziada, e ninguém mais se lembra da rodada de desenvolvimento de Doha", afirmou.
A fala acontece após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impor uma taxa de 50% aos produtos brasileiros.
O presidente brasileiro também rejeitou a crescente ideia de “desglobalização”, afirmando que essa visão é equivocada e que o mundo não pode se isolar diante dos desafios comuns.
“Não é possível ‘desplanetar’ nossa existência compartilhada. Nenhum muro é alto o suficiente para preservar ilhas de paz e prosperidade cercadas por violência e miséria”, disse.
Lula alertou ainda para o risco de colapso da ordem internacional criada após a Segunda Guerra Mundial, que em 2025 completa 80 anos. Ele mencionou o enfraquecimento das instituições multilaterais, o uso ilegal da força por potências globais e a escalada de conflitos, especialmente no Oriente Médio, que põem em xeque a estabilidade global.
"As fissuras já eram visíveis há muito tempo. Desde as invasões do Iraque e do Afeganistão, a intervenção na Líbia e a guerra na Ucrânia, alguns membros permanentes do Conselho de Segurança têm banalizado o uso ilegal da força", declarou Lula.
"A falha em agir diante do genocídio em Gaza representa uma negação dos valores mais básicos da humanidade. A incapacidade de superar diferenças está alimentando uma nova escalada de violência no Oriente Médio, cujo último capítulo inclui o ataque ao Irã", acrescentou.
No âmbito econômico, o presidente cita o modelo "neoliberal" vigente desde a crise de 2008, lembrando que o resgate financeiro privilegiou grandes corporações e os mais ricos, aprofundando a "desigualdade" no mundo. "Nos últimos 10 anos, os US$ 33,9 trilhões (£ 25 trilhões) acumulados pelo 1% mais rico do mundo equivalem a 22 vezes os recursos necessários para erradicar a pobreza global, segundo relatório da Oxfam."
Além disso, Lula enfatizou que "muitos países cortaram programas de cooperação" internacional e realizaram o descumprimento de compromissos climáticos, ressaltando que as nações mais pobres, que menos contribuíram para a crise ambiental, são os mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.
"Não se trata de caridade, mas de enfrentar disparidades enraizadas em séculos de exploração, interferência e violência contra os povos da América Latina e Caribe, África e Ásia. Num mundo com PIB combinado superior a US$ 100 trilhões, é inaceitável que mais de 700 milhões de pessoas ainda sofram de fome e vivam sem eletricidade ou água", destacou.
Apesar dos desafios, o presidente ressaltou os avanços obtidos pelo sistema multilateral, como a erradicação da varíola e a preservação da camada de ozônio, e destacou o papel do Brasil na busca por consensos globais, por meio "da presidência do G20, do Brics e da COP30".
“Há uma necessidade urgente de reafirmar o compromisso com a diplomacia e reconstruir as bases de um multilateralismo verdadeiro — capaz de responder ao clamor de uma humanidade temerosa pelo seu futuro”, disse.
"Só assim poderemos parar de assistir passivamente à ascensão da desigualdade, à insensatez da guerra e à destruição do nosso próprio planeta", finalizou.
FONTE: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/tarifas-globais-elevam-precos-e-travam-economia-diz-lula/
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